domingo, 10 de fevereiro de 2019
E a sugestão da semana vai para...
"(...) Mas o Papalagui pensa tanto que pensar se tornou um hábito, uma necessidade, mesmo uma compulsão. Tem de estar sempre a pensar. Só com grande dificuldade consegue não pensar e viver com todo o seu corpo. Só a sua cabeça está viva, enquanto os outros sentidos dormem profundamente, embora ao mesmo tempo ele ande, fale, como e ria. O processo de pensar, os pensamentos (que são os frutos do pensar), mantêm-no prisioneiro. É uma espécie de intoxicação com os próprios pensamentos. Quando o Sol brilha alegremente, imediatamente ele pensa: "Como o sol brilha alegremente!" E continua a pensar "Como brilha alegremente neste momento." Isto é errado, fundamentalmente errado e tolo, porque quando o Sol brilha, o melhor é não pensar de todo. Um samoano inteligente estende os membros à morna luz do Sol e não pensa nela. Absorve o sol não só com a cabeça, mas também com mãos, pés, coxas, estômago, com todos os seus membros. Deixa a pele e os membros serem felizes e pensarem à maneira deles, embora esta seja diferente da maneira da cabeça. Mas o Papalagui não é capaz de fazer isso; o seu pensar é como um grande pedregulho de lava que não consegue tirar do caminho. (...)"*
Para denunciar ocupações de-mentes que ocupam espaço e consomem aos poucos a energia de viver, saborear com todos os sentidos. Este livro é uma colectânea de textos escritos por Tuiavii, chefe da tribo samoaana de Tiavéa, uma ilha do Pacífico Sul, na sequência da sua visita à Europa (1920). Chamou Papalagui aos homens do Ocidente e como a sua descrição é tão atual nos tempos que correm. Uma escrita deliciosa e simples que nos confronta com o automatismo em que vivemos, com a essência que esquecemos.
* in Papalagui, de TIAVÉA, Tuiavii, Ed, Marcador, p. 97
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